Vía MASP.
Paul Gauguin (1848-1903) é considerado um dos mais importantes artistas
modernos surgidos na França no século 19. Sua modernidade reside na
negação de um estilo único na pintura e na diversidade de formas e
elementos que utilizava. Gauguin renovou a pintura incorporando
referências de imagens do “outro”, fora do panorama cultural europeu,
com paisagens e personagens do Taiti, a ilha no oceano Pacífico que
integra a Polinésia Francesa.
Esta é a primeira exposição a abordar de maneira crítica a problemática
relação do artista com esse “outro”. Sua obra, sobretudo no período do
Taiti, é uma extraordinária investigação sobre a figura e a cor, assim
como é extremamente contemporânea no modo como se apropriou de
iconografias de diversas culturas, colocando-as em diálogo com a própria
tradição da pintura ocidental. Por outro lado, Gauguin também destacou o
“outro” como exótico e primitivo, em um desejo fantasioso pelos
“trópicos”, uma visão idílica carregada de ficções e estereótipos e
estruturada por uma relação de poder – entre o “outro” e eu. Para tornar
essa narrativa mais intrincada, o próprio artista se declarava
“primitivo”, “selvagem” e falava de seu “sangue inca”, uma vez que sua
mãe era peruana e ele vivera em Lima quando criança. De todo modo, é
evidente que suas pinturas erotizam o corpo da mulher indígena,
enfatizando uma suposta disponibilidade sexual aos olhos e às tintas do
homem branco europeu.
Foi a busca por uma arte mais pura e autêntica, bem como por paraísos
supostamente imaculados pela civilização, o que levou Gauguin a deixar a
França para se fixar no Taiti, ainda hoje um domínio francês na
Polinésia. Ele se mudou para lá em 1891, aos 43 anos, e lá viveu até sua
morte, com um intervalo de dois anos em Paris, para onde regressou a
fim de expor e vender suas obras. A relação com o outro é sempre dada a
partir do “eu”, de si próprio, daí o destaque da mostra nos
autorretratos do artista.
Gauguin realizou experimentos radicais com pintura, gravura e escultura,
em madeira e cerâmica, sempre em busca de novos métodos artísticos,
criando obras fascinantes e sedutoras, e reinventando um passado de
maneira profunda—e problemática. Nas últimas décadas, a história da arte
vem sendo cada vez mais revisada e questionada, sobretudo no que diz
respeito às relações com o “outro”. Assim, esta mostra pretende chamar
atenção para o fato de que, para uma “outra” história da arte, que não
faz parte da tradição dominante, e a depender de quem enuncia a frase,
Gauguin também pode ser entendido como o “outro”.
A exposição integra a programação anual do MASP dedicada às Histórias
indígenas. Este ano, a programação também inclui mostras de Carmézia
Emiliano, MAHKU, Sheroanawe Hakihiiwe, Melissa Cody, além do comodato
MASP Landmann de cerâmicas e metais pré-colombianos e a grande coletiva Histórias indígenas.
Paul Gauguin: o outro e eu é curada por Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP; Fernando Oliva, curador, MASP; Laura Cosendey, curadora assistente, MASP.
No hay comentarios.:
Publicar un comentario